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terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Ser Humano - Kurt Tucholsky

"O ser humano tem duas pernas e duas
convicções: uma para quando está bem e outra para quando está mal. Esta última
se chama religião.O ser humano é um vertebrado e tem uma alma imortal, tanto
quanto uma pátria, para não ficar muito atrevido. O ser humano é produzido por
via natural, porém que ele achaque não é natural e evita falar sobre isso. Ele é
feito, mas não consultado se queria ser feito.O ser humano é um ser vivo útil,
pois a morte no campo de batalha serve para elevar às alturas as ações de
petrolíferas, a morte nas minas serve para aumentar o lucro do dono da mina e,
além disso, ele ainda faz cultura, arte e ciência.O ser humano tem, além do
instinto de reprodução e os de comer e beber, duas paixões: fazer barulho e não
escutar. Quase daria para definir o ser humano como um ser que nunca escuta. Se
é sábio, faz ele muito bem: sensatez é muito raro de se ouvir. Os seres humanos
gostam de ouvir promessas, bajulações, elogios e cumprimentos. No caso de
bajulações, recomenda-se proceder sempre três vezes mais descaradamente do que
se julga ser o limite do possível.O ser humano inveja a sua espécie. Por isso,
inventou as leis. Se ele não pode, então ninguém pode.Para confiar num ser
humano, é melhor sentar em cima dele; pelo menos assim a gente pode ter certeza
de que não escapa. Alguns também confiam no caráter.(...)O ser humano é um ente
devorador de plantas e animais; em expedições polares devora de vez em quando
exemplares de sua própria espécie; porém isso é contrabalançado pelo fascismo.O
ser humano é uma criatura política, que prefere passar a vida em amontoados.
Cada amontoado odeia os outros amontoados, porque são os outros. E odeia o
próprio, porque é o próprio.(...)Todo ser humano tem um fígado, um baço, pulmões
e uma bandeira; esses órgãos são vitais. Pode ser que haja seres humanos sem
fígado, sem baço ou com apenas um pulmão; não há seres humanos sem
bandeira.(...)Quando o ser humano sente que já não pode mais pegar o bonde
andando, torna-se piedoso e sábio; renuncia então às uvas amargas do mundo. A
isto chama-se exame de consciência. As diferentes faixas etárias do ser humano
consideram umas às outras como raças diferentes:os velhos normalmente se
esquecem de que foram jovens, ou se esquecem de que são velhos, e os jovens
nunca compreendem que podem envelhecer.O ser humano não gosta de morrer, pois
não sabe o que vem depois. Se acha que sabe, também não gosta; ainda quer
participar mais um pouco do que já passou. “Um pouco” aqui quer dizer:
eternamente.No mais, o ser humano é um ser vivo que martela, toca música ruim e
deixa o cão latir. Às vezes faz silêncio, mas é quando está morto.Além do ser
humano, há ainda os saxões e os americanos, mas sobre esses ainda não
aprendemos. Zoologia só teremos no ano que vem."
Bom, achei o texto um tanto quanto preconceituoso no final, mas muito interessante o ponto de vista dele, e irônico.
vi no perfil de um estranho no orkut hoje...

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